quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"A Passagem - Páscoa"


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Venho partilhar convosco este meu trabalho “Passagem – Páscoa” que vos apresento em duas partes; esta é a primeira parte.
Maria de Portugal

















Lagos, Fevereiro de 2001


Ao meu pai
que faleceu a 05-07-2011
com 81 anos de idade
e deixa muitas saudades.
Fez-se o que se pôde e o que foi possível,
mas fica sempre tanto por fazer e por dizer!



Ser livre é saber o que se arrisca
e escolher claramente, quando necessário,
esse mesmo caminho.

Martin GRAY in «La Vie Renaitra de la Nuit»












INTRODUÇÃO
Nos anos quarenta uma jovem escreveu no seu diário algo tão actual como: “As pessoas barafustam, esforçam-se e apressam-se. As suas principais preocupações são materiais. Quando o corpo perde a Vida aparentemente tudo acaba. Enfim para que habitamos a Terra? Deve haver algum objectivo na nossa existência cá na Terra, mas ainda não a encontrei.
Toda a minha vida sempre tive vontade de viajar para encontrar esse objectivo talvez noutras culturas. Agora sei que o problema está em mim e eu não posso fugir-lhe. Sinto-me inquieta e infeliz.”

Um finalista universitário afirma numa conversa com amigos: “Agora que sou adulto, passo bastante tempo a tentar perceber o que é a Vida e para que serve. Não é engraçado que nos esclareçam tão pouco sobre este assunto na universidade?”

Há dias num encontro de Poesia para adolescentes do ensino secundário uma das animadoras lançava-lhes esta pergunta: “Os jovens estão mais vocacionados para o SER ou para o TER?” De entre a assistência um deles pegou no microfone e sem hesitação disse: “Para o TER.” Ninguém defendeu a outra alternativa. À saída uma entrevistadora de um dos canais de televisão perguntou a um deles ao acaso: “Qual o tema principal das vossas conversas?” Sem hesitar e com um sorriso de satisfação respondeu: “O sexo”.

Vivemos a filosofia do materialismo, do ver para crer.
Os anúncios publicitários todos os dias nos bombardeiam com “A felicidade é ... (acumular coisas)” e tudo o que dizemos ou fazemos põe em evidência que somos um grande grupo de grandes consumidores. Cada qual fazendo por ter mais até não haver mais nada para agarrar e sempre com uma desculpa. É o egoísmo a dominar tudo e todos e por muito que tenha, a insatisfação é sempre crescente. Como encontrar a felicidade, a paz?

Ditaduras não o conseguiram; guerras também não. As armas nucleares trouxeram-nos o medo da destruição completa da vida na Terra. Então que fazer?

Há quem poupe para ir viver ou morrer no espaço nalguma estação orbital; por mim, acho que a solução está na transformação interior do ser humano.
Sabemos tanto sobre tudo o que nos cerca e tão pouco sobre nós mesmos. Primeiro temos de aceitar que somos muito mais do que um corpo físico, material; o mais perfeito de todos os corpos com vida que habitam a Terra. Temos de aceitar que somos também uma alma, um espírito, ... enfim, um ser que resulta de muitos seres invisíveis e acredito que sem o invisível que existe em nós não existiria o visível. Eles existem em nós como o ar que não vemos, mas se taparmos o nariz e a boca sentimos a falta dele; como sentimos a falta da saúde que o bem que é sermos saudáveis quando estamos doentes. Infelizmente muitas vezes só damos conta do que temos depois de o perdermos.

A partir daqui começamos a descer na nossa escala de todos-poderosos para o nível da humildade. Quando se desce é que se sobe, mas é muito mais difícil atingir a humildade do que chegar à Lua! No entanto, para ambos os casos é necessária muita força de vontade.
Só ao aproximarmo-nos da humildade passaremos a ser capazes de aceitar o transcendente: Deus, o Pai, o Filho, o Espírito Santo, Jesus Cristo, ... que ao nos darem toda a liberdade, nos vão fazendo ganhar consciência de Si para estabelecer a tal relação afectiva tão importante para Eles como para nós, pois a alegria de viver só se encontra quando se estabelece essa relação. ☺









Ó cristão, reconhece a tua dignidade!

de Leão Magno


CAP. I – O AMOR DE DEUS POR NÓS

Todos nós já em crianças associamos a Deus a ideia e realidade que temos com os nossos pais, pois Deus é como um Pai. Assim Deus é como os nossos pais são, se gostamos deles ou é como gostaríamos que os nossos pais fossem. Acima de tudo actualmente ninguém tem dúvidas “de que Deus deve dar tudo o que precisamos e não nos deve exigir absolutamente nada”, pois é assim que a juventude presentemente acha que os pais devem ser:
Os filhos têm todos os direitos e os pais têm todos os deveres e ai deles se se atreverem a exigir aos filhos seja o que for: serão uns pais desnaturados. Mesmo que tenhamos tido uns pais maravilhosos e portanto sentimo-nos amados por Deus e acreditamos que Deus é Amor; à medida que crescemos e tomamos contacto com o mal, o sofrimento, as catástrofes que estão constantemente a acontecer à nossa volta; imediatamente mudamos o nosso conceito a respeito de Deus e deixamos de amá-l’O e logo O acusamos de todo o mal que acontece.
Tantos adolescentes e mesmo adultos se questionam neste mundo materialista onde o TER e o PODER andam juntos, como é que Deus que pode e decide tudo (Deus à imagem do ser humano) permite o sofrimento e o mal muitas vezes em pessoas que são boas (e o livre arbítrio daquelas que se divertem a lançar o mal sobre os outros)?
Mas Deus dá-nos o livre arbítrio e um tempo para semear, isto é, fazermos o que quisermos sem que nada de mal nos aconteça e um tempo para colher quando nos passam a acontecer tudo o que fizemos aos outros e injustiças; por isso a sabedoria popular nos ensina “faz aos outros o que queres para ti (mesmo sem os outros o saberem) porque é isso que recebes (vais receber).”

Numa revista tomei contacto com o seguinte caso: os Rodrigues eram um casal muito amigo e apenas com um filho adolescente que tinha falecido havia pouco tempo de doença prolongada. A entrevista rodava à volta da morte do filho. Esta mãe explicava que poderia ter-se revoltado contra Deus por lhes ter levado este filho único que eles tanto amavam, pois Deus pode tudo e Se quisesse teria evitado isso. Só que esta mãe não o poderia fazer porque durante a doença do filho teve muitos exemplos do amor de Deus por ele.
No entanto houve algo que a marcou profundamente. Um dia o filho pergunta-lhe:
- Mamã, como é morrer? Dói morrer?
Esta mãe entrou em choque e foi até à cozinha para ganhar tempo e pedir ajuda a Deus para a resposta. Deus veio em seu auxílio e a resposta certa ocorreu na sua mente. Ela dirigiu-se novamente para o quarto do filho e disse-lhe:
  • Filho, lembras-te quando eras pequenino e passavas o dia todo a brincar? Quando chegava a hora de dormir já estavas tão cansado que ias directamente para o quarto da mamã e estendias-te na cama completamente vestido e calçado. Adormecias logo... Mas de manhã, quando acordavas, estavas no teu quarto, na tua cama, com o teu pijama e ficavas surpreendido. Como é que tinha acontecido a mudança e tu não te lembravas de nada? Acontecia que havia alguém que te amava muito e se preocupava muito contigo. O teu pai vinha com os seus braços fortes, mas com muito cuidado e amor e levava-te, de mansinho, para o teu quarto de maneira que não sentisses nada. Depois eu mudava-te a roupa e cobria-te com os lençóis com tanto amor e carinho que tu também não acordavas. Assim, filho, é a passagem de junto de nós para junto do Pai que está no céu. Nós acordamos um dia e vemos que estamos noutro lugar, o nosso lugar, aquele a que pertencemos e que o Pai guardou para nós porque Ele ama-te ainda mais do que nós, os teus pais cá na Terra e toma conta de nós com o mesmo carinho.

Esta mãe conta-nos: O João deixou de sentir medo de morrer após este episódio. Mesmo sem curá-lo, esta foi a melhor prenda que Deus nos poderia dar. No momento final, o João passou da Terra para o Céu exactamente como Deus me disse que ele o faria – no sono mais tranquilo e calmo, como quando passava do nosso quarto para o quarto dele ...

A seguir vem o comentário da jornalista: Aqueles que vivem uma tragédia são frequentemente iniciados em algo que, quem está de fora pode nunca experimentar ou compreender: o Amor de Deus – instantâneo, contínuo, real – no meio das aflições.

Com a presença do Pai eles têm algo mais precioso que o atendimento que Ele possa fazer a qualquer nosso pedido e como nós gostamos de inverter as situações a nosso prazer, não é Ele que tem de satisfazer os nossos pedidos, as nossas vontades; mas sim nós que, usando do livre arbítrio, escolhemos o que Ele nos pede “Amar a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos”, isto é, só praticar o bem e deixar acontecer agarrando as boas oportunidades que vão surgindo.

Na verdade, na oração, devemos expor as nossas necessidades e não pedir. Podemos pedir a saída daquela situação que nos aflige e só. As nossas acções regulam as nossas vidas. Teremos aquilo que fomos dando aos outros e não aquilo que quisermos “quem faz o mal, não pode esperar o bem” diz-nos a sabedoria popular. Contudo, o sofrimento vai surgindo à mistura porque ele é a medida necessária para irmos sendo burilados e cada vez melhores; caso contrário, tornamo-nos prepotentes e soberbos, sem necessidade de Deus. Com as contrariedades do dia-a-dia não perdemos a consciência da existência de Deus e damo-nos conta de tanto de bom que Ele nos dá todos os dias. Tantas provas há de que somos assim! Quantas pessoas já afirmaram que só depois de verem a morte à sua frente e não contarem mais com a vida, passaram a amar cada momento das suas vidas, a respeitar a vida e a dar muito mais importância à graça de poder estar e partilhar a vida com aqueles que amam. Nós não temos o direito de exigir nada a Deus porque só existimos graças a Ele e enquanto a nossa existência tiver sentido para Deus. Nós só temos o direito de amá-l’O, adorá-l’O e louvá-l’O porque nos fez existir e viver esta maravilhosa experiência. Sofremos, bem-vindo o sofrimento porque nos faz caminhar para Ele e ganhar cada vez mais consciência d’Ele e que Ele nos ajude em cada momento das nossas vidas a passar pelo sofrimento inóculos, sem revolta, sem questionamentos e sempre com muita fé de que após o mal vem a alegria da saúde, da vida, da paz com Ele e Jesus Cristo mais próximos e que tudo afinal valeu a pena e faz sentido!...

Todos nós mais cedo ou mais tarde somos postos à prova. Conhecemos realmente Deus, queremo-l’O connosco, queremos estar com Ele ou na verdade falamos apenas da boca para fora e só O queremos usar com a intenção da nossa vida ser um mar-de-rosas?
Esta é a grande questão e em geral, se nos situamos no primeiro caso é natural que as provações que, de vez em quando, surgem nas nossas vidas fortaleçam, amadureçam a nossa fé e a nossa relação com Deus. Se nos situamos no segundo caso é natural que à primeira provação voltemos as costas a Deus porque afinal Ele não fez a nossa vontade, não nos serviu, não nos pagou o tempo que Lhe dedicamos egoistamente com o intuito de sermos recompensados a prazo. Se no meio do tormento a nossa fé persevera e fortalece, então sim temos relação com Deus e é uma relação muito bonita em que também o Amor de Jesus Cristo nos envolve, amortece o sofrimento, ajuda-nos a ultrapassá-lo e nos sentimos muito amados como nenhum ser humano tem capacidade para fazê-lo. Não precisamos pedir-Lhe nada porque temos tudo; Ele, Deus, o Pai são tudo e estão em nós. Quando passamos pelo sofrimento, mas Jesus Cristo está connosco então compreendemos a verdade dos versículos Rm 8,35-39 “Quem poderá separar-nos do Amor de Jesus Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? De acordo com o que está escrito: Por tua causa estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores graças Àquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do Amor de Deus que está em Jesus Cristo, Senhor Nosso.”
Não há crescimento interior, caminho, peregrinação (para o Senhor Jesus Cristo) sem sofrimento e sem o Amor de Jesus Cristo, de Deus, do Pai do Céu a apoiar-nos e a elucidar-nos. Todo o sofrimento e provação por que passamos não é fruto do acaso, mas é aproveitado para um objectivo específico: burilar as arestas rugosas que existem na nossa mente e que dificultam a nossa peregrinação para Jesus Cristo. Deus e o Pai não nos querem masoquistas, mas que saibamos aceitar o sofrimento para nos modificarmos, para permitirmos que Eles nos moldem com o fim de ficarmos melhores, mais humanos. Na peregrinação de cada um e todos a fazemos desde que nascemos, Deus saberá quando precisa de parar a nossa peregrinação porque conhece as nossas limitações e ficaremos onde nos foi possível chegar. São de grande beleza os versículos da Epístola de S. Paulo aos Romanos 8,26-30 “É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos.
Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que adoram Deus, daqueles que são chamados de acordo com o Seu desígnio. Porque àqueles que Ele de antemão conheceu também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do Seu Filho. E àqueles que predestinou também os chamou e àqueles que chamou também os justificou e àqueles que justificou também os glorificou.”
No entanto, não confundamos; não é Deus que nos dá o sofrimento. São os das trevas e porque Ele dá o livre arbítrio a todos, Ele acompanha todo o nosso sofrimento e provação, aliviando o sofrimento dos do Bem, isto é,tornando-o suportável e recompensando-os por se manterem fiéis. Nós vamos vivendo situações difíceis, vamos tomando decisões, vamos respondendo, vamos escolhendo na presença de Deus e do Pai, de Jesus Cristo, do Pai do Céu e dos do mal e assim vamos fazendo o nosso caminho. Jesus Cristo “apostou” que estaríamos preparados para escolher o caminho para Ele e se isso acontecer Ele ficará muito feliz. O Seu filho(a) (na última Ceia chamou-nos “filhinhos”) ganhou o direito a ficar na Sua Casa que é também casa de Seu Pai ou a mudar para um lugar mais próximo da comunhão com Eles. O Filho acompanha o Pai em todo este processo. Ele sabe o que ensinou.
Isto só significa que o Filho e Deus estão preocupados e querem o nosso crescimento interior, a nossa maturidade espiritual, pois só assim conseguiremos alcançar a comunhão permanente com Eles “Eu e o Pai somos Um” e nós passamos a ser o Reino de Deus na Terra como S. Lucas nos comunica no capítulo 17, versículo 21

pois o Reino de Deus está em vós”. Então a alegria, a paz, a bondade, a calma e outros frutos do Espírito de Deus passam a existir em nós e o que tanto procuramos no exterior em tantas coisas e ambientes, finalmente temos dentro de nós.

Há 2000 anos era impossível ter esta qualidade de vida. No entanto, os discípulos viveram esta experiência com Deus e o Pai exteriormente na Pessoa de Jesus Cristo – o Filho Incarnado habitando entre nós, pois Ele é Um com o Pai (Jo.10,30): Jesus Cristo alegrou-se com a alegria dos outros; ficou feliz com a felicidade dos outros; chorou com a tristeza dos outros; salvou da morte todos os que quiseram acreditar na Sua Palavra dando vida a mortos, curando todas as doenças, expulsando demónios e trazendo muita alegria e esperança aos que a não tinham. Trouxe o Reino de Deus à Terra e todos rejubilaram.
Jesus Cristo afirmou-nos: “Vim, não para fazer a Minha vontade, mas a d’Aquele que Me enviou.” (Jo.6,38) “E a vontade de Meu Pai é esta: todo aquele que vê o Filho e acredita n’Ele tem a Vida e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.” (Jo.6,40)
Que aprenderam os discípulos contemporâneos de Jesus Cristo?
Em primeiro lugar a relação íntima que Ele tinha com o Pai. Todos os dias, várias vezes ao dia, afastava-se dos Seus discípulos para rezar na intimidade. Com Deus e o Pai não se dialoga, não se regateia. Com Deus e o Pai fala-se, expõe-se os nossos problemas e as nossas inquietações e fazemos silêncio dentro de nós para nos apercebermos da vontade d'Eles e/ou de Jesus, aceitá-la e cumpri-la. Há alturas em que a resposta não vem logo, mas nos acontecimentos do quotidiano e só depois de acontecer é que nos apercebemos que aquela foi a resposta que Eles tiveram para nós. Não há testemunhos de que Jesus Cristo tenha alguma vez regateado, dialogado com Seu Pai, mas sim que tenha feito silêncio, respeitado e cumprido sempre e só a vontade de Seu Pai.

Jesus Cristo providenciou tanto as necessidades espirituais como as do corpo. Ele mesmo afirmou: “Nas vossas orações não useis de repetições porque o Vosso Pai Celeste sabe do que precisais antes de vós Lho pedirdes” (S. Mateus 6,7-8) e também “Não vos preocupeis com o que comer, beber ou vestir pois Vosso Pai Celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso.” (S. Mateus 6,25-33) Se a morte vos atacar na forma de doença, desequilíbrio emocional, privações “pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á, não esquecendo que o que quiserdes que vos façam os outros, fazei-o (primeiro) também a eles.” (S.Mateus 7,7-12) Ao fazermos aos outros o que gostaríamos que nos fizessem, estamos a comunicar a Deus, a Jesus Cristo, ... o que queremos para nós porque é essa a Lei. Contudo, não é deles que receberemos gratidão, a mesma atenção ... mas sim de Deus, de Jesus Cristo, do Pai do Céu e Aquele que veio em nosso auxílio, encaminhará alguém que nos fará naquele momento que precisamos o que fizemos a outro no momento que ele precisou. Como tratarmos os outros, Deus encaminhará alguém na altura oportuna a nos fazer a mesma coisa. “Não julgueis para não serdes julgados; a medida com que medirdes, sereis medidos.” (S. Mateus 7,1-5) Também muito importante neste capítulo temos: “Não deis as coisas santas aos cães, nem lanceis as vossas pérolas aos porcos; para não acontecer que as pisem aos pés e, virando-se contra vós, ainda vos despedacem.” (Mt.7,6) Isto é, vede bem a quem fazeis o bem, a quem dais a conhecer a Palavra e fazei-o apenas na medida em que essa pessoa consiga aproveitá-los. Primeiro há que nos apercebermos se a pessoa está receptiva àquilo que lhe temos a comunicar e detectar a sinceridade da mesma. Caso ela esteja mais interessada nas coisas materiais e ainda ria de Deus e do Pai o melhor é o silêncio, pois antes da nossa actuação tem de haver a actuação celeste. ”A semente está lançada. Ide e trabalhai a terra.” Se existe interesse na pessoa pelas coisas de Deus, há que detectar até onde ela terá capacidade de aceitar e dar-lhe apenas isto. Deus e o Pai farão sempre primeiro o trabalho; nós somos meros instrumentos e Deus é que sabe qual é a situação interior daquela pessoa e até onde ela pode ir. Tudo o que sobre, é desperdício; perda de tempo que poderia ser utilizado proveitosamente com outra pessoa e muitas vezes também é prejuízo para nós próprios porque os do mal só têm mal para retribuir, às vezes até pensando que nos fazem bem; por exemplo, se eles em agradecimento nos atribuírem os dons de malícia, ambição, estão a fazer-nos mal, a afastar-nos do bem. Há que saber em cada momento qual é a vontade de Deus e fazê-la e nunca a nossa vontade.

Também em factos, Jesus Cristo providenciou o alimento necessário: os casos da multiplicação dos pães e peixes e da transformação da água em vinho.
O Filho de Deus, Jesus Cristo, foi Imagem de Seu Pai quando expulsava a morte que provoca as doenças; quando expulsava espíritos malignos dos corpos, restaurava órgãos do corpo como pernas e olhos e tinha poder sobre a morte: ressuscitou Lázaro e várias outras pessoas já consideradas sem vida; dominou as tempestades.
Este período foi único na história do planeta. Deus e o Pai habitaram entre nós e deram-se a conhecer e todos viveram a felicidade de se sentirem protegidos do mal e a alegria enorme de ter Vida e Vida em abundância.
Deus e o Pai deram-se a conhecer como são: Vida, misericórdia, justiça, afectos, bondade, caridade, amizade, respeito, piedade, ... e tudo isto contribui para a tal alegria de viver, de existir; característica de todos os que vivem na Graça d'Eles. Jesus Cristo fez tudo para nos dar a conhecer Seu Pai – o Deus que está sempre próximo, pois o Seu Reino está em nós;(Lc.17,21) Poderoso, sempre pronto a ajudar-nos na nossa caminhada, pois só deseja uma coisa: a nossa felicidade que é a Sua Felicidade e nunca agradeceremos o suficiente mesmo que Lhe agradeçamos todos os dias a vida que todos os dias nos dá e a vida que dá a tudo o que existe na natureza e que pôs ao nosso dispôr.

O apóstolo S. João transmite-nos com muito amor: “N’Ele estava a Vida e a Vida era a luz da humanidade, mas as trevas não A admitiram.” (Jo.1,1-18)
e S. Paulo na II Epístola a Timóteo 1,12 diz-nos: “... sei em Quem pus a minha confiança e estou certo de que Ele tem poder para guardar até àquele dia o bem que me foi confiado.” Nessa confiança completa reside o significado da frase de Jesus Cristo: “Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino dos Céus.” (Mt.18,3) Como são as criancinhas?
Têm plena confiança nos seus pais e quando estão com eles nada os assusta porque sabem que os pais os defenderão de todo o mal. Então só quando atingirmos com o coração esta confiança plena em Deus, no Pai e em Jesus Cristo estaremos em condições para passar do mundo das trevas para o mundo do Dia. A purificação vai-se fazendo com a ajuda de Deus e do Pai, do Filho: Jesus e do Espírito Santo.

Catherine Marshall escreve no seu livro BEYOND OURSELVES sobre os seus tempos de estudante universitária: “A minha religião não tem uma base firme, pois ainda não tive uma experiência vital. Deus não me parece real. Eu acredito, mas não posso continuar assim. Acredito que estou a viver uma crise existencial. Compreendo agora como é fácil as pessoas perderem a fé quando atingiram um determinado nível de estudos que os faz pensar como seres independentes. Isto acontece a qualquer um que tenha recebido a religião como herança ou hábito. Se algo não me acontecer, poderei seguir o mesmo caminho.”(p.50)1 Geralmente este encontro pessoal com Deus vem por meio de uma crise. A ela aconteceu-lhe em Março de 1943 quando lhe foi diagnosticado manchas nos dois pulmões. Foi-lhe exigido 24 horas por dia na cama até as manchas desaparecerem. Assim passou ano e meio com marido e um filho de quatro anos e tudo na mesma. Tudo foi tentado e tudo resultou em nada. “Havia em mim um forte desejo de comunicar com Deus, nascido do desespero. Compreendia que do ponto-de-vista de Jesus Cristo a saúde física é uma pequena parte de um todo (a unidade das partes) mais profundo. Assim esta unidade só pode surgir quando as várias partes interiores deste todo estão saudáveis, quando o indivíduo se une à Fonte do seu ser. Por isso cheguei à conclusão de que a procura da saúde passa pela procura da relação pessoal com Deus. A questão era: o que é que estava bloqueando esta relação?”
Então a autora faz uma análise da sua vida para verificar o que está fora do caminho prescrito por Jesus Cristo no Sermão da Montanha e foi tomando notas. De seguida pediu ajuda espiritual, pediu perdão a quem tinha ofendido e verificou a coragem e a humildade que são necessárias num arrependimento verdadeiro. Também pediu perdão pessoalmente a Deus e ao Pai e a Jesus Cristo e agarrou-se às promessas feitas pelo Apóstolo S. João: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar e purificar-nos de todos os preconceitos.” Após queimou a lista e as notas que tinha feito, com a firme decisão de mudar. Nos meses seguintes ganhou consciência de que havia pessoas de quem não gostava e que as tinha afastado da sua vida. “Agora Jesus Cristo dizia-me: Isso não é perdão. Não é permitido portas fechadas. “Se perdoardes aos outros as suas ofensas também o vosso Pai Celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos outros as suas ofensas também o vosso Pai não vos perdoará as vossas. (Mt.6,14-15) Se não se perdoa não se entra no Reino dos Céus.” É preciso perdoar e esquecer com a ajuda celeste e entregar tudo que nos fazem, bem e mal, a Deus e Seus colaboradores, ao Senhor Jesus Cristo e seus colaboradores, ao Pai do Céu e seus colaboradores.
Qualquer médico exige que todos os seus conselhos e medicamentos sejam seguidos. Caso contrário, ele não se responsabiliza. O mesmo se passa com Deus e o Pai. Então a 22 de Junho de 1944 a autora promete a Deus e a Jesus Cristo:
“A partir deste momento eu prometo que, até ao fim da minha vida, vou tentar fazer seja o que for que o Senhor me peça; desde que tenha plena consciência de que esses são os Vossos desejos, Senhor e Pai-Nosso. Sou fraca e muitas vezes provavelmente vou querer fazer a minha vontade; mas, Senhor, vai ter de me ajudar nisso também.” (p.56) Respirou fundo, estava a tremer; mas a promessa estava feita. Isto trouxe-lhe a paz que havia muito tempo não sentia.
Nas semanas seguintes começou a sentir melhoras e lentamente a Vida foi-lhe regressando. O Pai do Céu, Jesus Cristo tratam de maneira diferente cada um de nós e este tratamento individualizado revela-nos a elevada qualidade do Amor e preocupação de Deus. ”A partir de João Baptista é anunciada a Boa-Nova do Reino de Deus e cada qual esforça-se por entrar nele.” (Lc.16,16) Ao mesmo tempo há uma experiência de compromisso que é comum a todos nós: o acto de nos confiarmos completamente – passado, presente e futuro – a Deus e de fazermos a Sua vontade, ficando ao cuidado do Pai do Céu, de Jesus Cristo. O que Deus quer de nós é exactamente o que qualquer pai/mãe preocupado quer para o seu filho – aquela pura alegria que jorra da maturidade da nossa fé. Que Jesus Cristo é assim só podemos descobrir por nós próprios e esta é a única dificuldade. A descoberta vem em segundo lugar porque em primeiro lugar vem o acto de querer e só depois vem a compreensão e o conhecimento do Pai Celeste, de Jesus Cristo.

Muitos cristãos-praticantes transmitem a ideia de que há apenas duas maneiras de entrar para a fé consciente:
    • Nascer numa família praticante;
    • Ter uma experiência dramática de fé em adulto.

Ambos os casos têm dois factores infelizes em comum: a iniciativa não foi aparentemente do indivíduo e o caminho para o Pai Celeste é muito impreciso. A tibieza da caminhada só tem a ver connosco e não com Jesus Cristo.
Algo mais é necessário: cada indivíduo entra no caminho da maturidade da fé por si próprio. É algo que não se pode herdar. A fé é pessoal; não é por nossos pais a terem que nós vamos ter fé ou todos os filhos terão fé. Como também os filhos de pais descrentes podem ser crentes, apesar do ambiente contribuir muito para a tomada consciente da fé e é uma grande ajuda para esta se desenvolver. Quando os Apóstolos começaram a pregar insistiam que cada indivíduo tinha de ter o seu encontro pessoal com Jesus Cristo e tomar a decisão de aceitar o seu caminho ao encontro do Pai Celeste. A história mostra-nos que houve muita vitalidade neste século I da nossa Igreja. Vitalidade suficiente para abanar o sofisticado império romano.
Entrar para a Vida com Afectos significa adquirir novamente a inocência e a confiança da infância na relação com os nossos pais; em adultos na relação com Jesus Cristo e Deus.
É a porta estreita!
A Boa-Nova é que Jesus Cristo nos recebe, apesar de tudo o que tenhamos feito da nossa vida anteriormente. O que importa para Ele é o desejo de fazer caminhada para Ele. A Nova Pessoa surgirá mais cedo ou mais tarde.

M E M O R A N D U M

  1. Admitir que se é incapaz de resolver uma ou mais áreas da nossa vida;
  2. Acreditar que existe uma Força Superior a nós próprios;
  3. Tomar a decisão de mudar a nossa vida, entregando-a aos cuidados do Pai Celeste;
  4. Investigar e fazer um inventário do mal que se tem feito e orientado a nossa vida;
  5. Admitir a Deus, a Jesus Cristo e a nós próprios e ao conselheiro espiritual as nossas faltas, as nossas ofensas a Deus e aos outros;
  6. Estar preparados para que Deus e os Seus colaboradores nos modifiquem e retirem os nossos defeitos e pedir isto humildemente ao Pai Celeste;
  7. Fazer uma lista das pessoas com quem temos sido incorrectos e alterar o nosso comportamento com essas pessoas;
  8. Continuar a fazer regularmente exames de consciência e pedir perdão a Deus e aos outros;
  9. Rezar e meditar diariamente melhorando o nosso contacto com o Pai Celeste, tentando conhecer a Sua vontade e pedindo auxílio para a concretizar;
  10. Transmitir aos outros estes princípios e esta maneira de viver.
(continua)


1 Ibidem

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